Repensar a Segurança Pública

Autora: Silvana Pereira Marin
Psicologa, Perita credenciada pela Polícia Federal para realizar avaliações para porte de arma de fogo.

Com relação ao artigo "Crise na cidade do Rio de Janeiro. Guarda Municipal desarmada: Será que não é o momento de rediscutir o papel do governo local nas ações de segurança?" exposto pelo Inspetor Marcos Bazzana Delgado, da Guarda Civil Metropolitana da Cidade de São Paulo, concordo quando diz que parte da desordem que se instala atualmente no Rio de Janeiro é também por uma limitação da atuação da Guarda Civil, que se talvez fosse mais efetiva contribuiria com maior ênfase, porém não se pode corrigir uma situação deficiente dessa proporção com atitudes imediatistas, colocando-se em risco a vida de toda uma Corporação e de Munícipes.

Tive a honra de palestrar no último Congresso Nacional das Guardas sediado pela cidade do Rio de Janeiro e assim conversar com muitos dos guardas que ali se encontravam e percebi que além de hospitaleiros, profissionais dedicados, integrados, interessados no auto aprimoramento, orgulhosos do uniforme e da instituição que representam, demonstraram intenção e vontade de portar arma, mas que também apresentavam consciência das implicações que um armamento carrega... Continui lendo

Não é por acaso ou por capricho dos órgãos competentes que há todo um ritual necessário quando se opta por armar uma Guarda. Os integrantes passam por um treinamento específico que dura aproximadamente quatro meses e que são realizados em centros de formação geralmente dentro das próprias Instituições. Esses centros de formação são equipados e possuem profissionais capacitados e credenciados pelos órgãos competentes e dentre esses há profissionais treinados, habilitados e credenciados pela Policia Federal para atuarem como instrutores de tiro.

Tudo dentro do mais rigor possível para que o agente de segurança em questão possa sair do centro de formação com capacidade suficiente de atuar com segurança.

Depois de formado esse Guarda que formalmente encontra-se pronto para atuar armado nas ruas, nunca vai sozinho, sempre está acompanhado de um outro Guarda armado, com maior experiência, para que o mesmo consiga se habituar ao trabalho de rua, adquirir treino e condições de em uma situação onde seja necessário o uso do armamento o faça consciente, com clareza de raciocínio, que mantenha preservada sua capacidade de análise e julgamento da situação e principalmente em condições emocionais satisfatórias.

Analisaremos a Guarda de São Paulo, já que foi essa a comparação usada pela quantidade de agentes existentes em ambas. A guarda Civil Metropolitana é armada desde sempre. Quando se presta um concurso para ingresso na Guarda já se sabe que irá trabalhar armado, a população já sabe que a Guarda é armada, os integrantes da Guarda passam por treinamento específico e avaliação psicológica periódica para manter-se armada. Essa é a diferença entre as guardas armadas e as não armadas, segundo meu ponto de vista

Posto isso e diante do quadro que se encontra atualmente a cidade do rio de janeiro, seria imprudência pensar em armar uma Guarda que historicamente não possui experiência em atuações armadas e que provavelmente vem sofrendo um abalo emocional, assim como toda a população. Não podemos nesse momento tão delicado, sermos imediatista e tomar medidas impulsivas, pois mais vidas seriam colocadas em risco desnecessariamente.

Concordo com o Inspetor quando diz que a função da Guarda Civil é a de proteger pessoas e preservar a ordem e que com o armamento a função “proteção” fica em algumas situações mais eficaz, contudo há de se considerar que proteger pessoas não necessariamente significa Guarda Armada, é uma das maneiras de proteção, de atuação, mas não exclusivamente. Nesse ponto discordo do Inspetor, pois como a Guarda do Rio de Janeiro possui um histórico de não armamento, sua função de proteger pessoas é feita de maneira à prevenção, de mediadora, de orientadora, enfim de diversas maneiras necessárias e nobres, onde o uso do armamento não se faz necessário, e nesse momento de crise, uma das maiores, mais graves e mais longas da história da cidade, colocar armamento em profissionais que possivelmente encontram-se com um nível de stress elevado, de tensão, de pressão constante, onde a insegurança e o medo estão generalizados, só causaria mais transtornos, pois o homem já desgastado pela situação atual poderia se vestir de coragem e impor sua autoridade de maneira desenfreada, ou simplesmente não conseguir se ver com esse armamento e vir a prejudicar alguma atuação mais incisiva que se fizesse necessária no momento, colocando novamente em risco sua própria vida, a vida dos parceiros e a vida da população.

Tem-se muito que refletir e fazer sobre esse assunto, e eu como uma estudiosa do comportamento humano, sei que armar uma guarda é responsabilidade grande demais e deve ser feita sim, mas de maneira inteligente, calculada, com tempo hábil para se treinar e preparar emocionalmente o profissional para que possa atuar de maneira mais efetiva no auxílio à proteção da população.

Há sim que se repensar urgentemente políticas internas na área de Segurança Pública para o Rio de Janeiro e para o País, no intuito de se conter esse aumento desenfreado da criminalidade e se tomarem ações conjuntas para se profissionalizar mais as Guardas, para se unificar condutas de atuação das mesmas, para uma melhora no reconhecimento do trabalho tão importante que essa categoria presta para o país e que muitas vezes não é valorizada como merece. Nesse momento me refiro a se profissionalizar, a se especializar, sendo o porte de arma uma parte desse processo de profissionalização, mas não o único.

Os Municipais

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