Policiais se irritam com diálogo de novela da TV Globo
Cena do capítulo 141 da novela Insensato Coração, exibida às 21 horas pela TV Globo no último dia 29, causou polêmica entre policiais militares e guardas-civis por, supostamente, associá-los à corrupção. A revolta foi tanta que o Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (CNCG-PM/CBM) enviou carta de repúdio ao diretor presidente da Rede Globo, Roberto Irineu Marinho, pedindo que o dano fosse reparado.
Na novela, o delegado Rossi (Ricardo Pavão) cumpre mandado de busca e apreensão na casa do banqueiro Cortez (Herson Capri), quando é abordado pela filha dele, Paula (Tainá Müller). A personagem critica a ação policial, dizendo que eles deveriam estar "recolhendo mendigos" ou "recebendo propina de motoristas bêbados". O delegado responde que não é guarda municipal nem policial militar.
O diálogo entre os personagens da chamada "novela das nove" foi o suficiente para que policiais militares e guardas-civis se manifestassem na internet e oficialmente. "São 600 mil policiais militares em todo o Brasil. Embora seja uma obra de ficção, acaba colaborando para que se tenha uma imagem distorcida da categoria", disse o presidente do Conselho Nacional de Comandantes Gerais da PM, coronel Alvaro Batista Camilo, chefe da corporação no Estado de São Paulo. "Representantes da própria comunidade mandaram e-mail dizendo que não ficou bem."
Na carta enviada ao diretor presidente da Globo, Camilo diz que o diálogo tem "forte caráter pejorativo". Ele diz que cabe à emissora reparar a cena na própria novela "para que não paire qualquer dúvida sobre a pessoa e a imagem do policial militar brasileiro". "Até o momento, não recebi nenhuma informação de que haverá algum reparo."
Manifestação. O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Wilson de Oliveira Morais, diz que recebeu telefonemas e e-mails pedindo que a entidade se manifestasse contra as declarações do delegado Rossi. "A maioria dos policiais militares é honesta, tanto que trabalha 18, 20 horas por dia justamente para não ter de pegar propina para poder sobreviver; 85% dos policiais militares fazem bico."
Entre os guardas-civis também houve reação negativa por causa do diálogo na novela. "Assisti à cena e fiquei chateado. As corporações refletem a sociedade, mas você não pode colocar isso (corrupção) como uma prática comum a todos", diz Carlos Augusto Souza Silva, presidente do Sindguardas (entidade que representa os guardas metropolitanos de São Paulo). "Em vez de contribuir para a solução dos problemas, acaba colocando como uma verdade."
Ficção. Questionada, a Globo afirmou que a declaração do delegado Rossi diz respeito à função de ordenamento urbano exercida pelos guardas e PMs, mencionada pela personagem Paula ("recolher mendigos"), que tem como características o preconceito e a arrogância. A autoridade logo explica que não faz parte da Polícia Militar ou da Guarda Municipal, corporações que têm competência para tal função. A emissora ressalta que a atitude de Paula é imediatamente repreendida pelo irmão, um estudante de Direito.
A Globo afirma também que a novela é uma obra ficcional, amparada pela liberdade de expressão e sem compromisso algum com a realidade, "que deveria ser a verdadeira preocupação das autoridades". O Estado procurou também os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, mas eles não se manifestaram até as 20 horas de ontem./ COLABOROU RENATO MACHADO
DIÁLOGO POLÊMICO
Paula
"Eu sou uma das donas dessa casa. Eu acho um absurdo chegar aqui e estar essa bagunça, essa falta de respeito. Vocês não têm mais nada para fazer, não, hein? Com tanto mendigo na rua para recolher, o que vocês fazem, hein? Só recebem propina de motorista bêbado?"
Delegado Rossi
"Acho que a senhora está confundindo um pouco as coisas. Eu não sou guarda municipal, tampouco sou policial militar, por isso mesmo vou te dar um refresco e vou fingir que não ouvi o que a senhorita acabou de dizer."
estadao
Reprodução
Polêmica em 'Insensto Coração'
O diálogo entre os personagens da chamada "novela das nove" foi o suficiente para que policiais militares e guardas-civis se manifestassem na internet e oficialmente. "São 600 mil policiais militares em todo o Brasil. Embora seja uma obra de ficção, acaba colaborando para que se tenha uma imagem distorcida da categoria", disse o presidente do Conselho Nacional de Comandantes Gerais da PM, coronel Alvaro Batista Camilo, chefe da corporação no Estado de São Paulo. "Representantes da própria comunidade mandaram e-mail dizendo que não ficou bem."
Na carta enviada ao diretor presidente da Globo, Camilo diz que o diálogo tem "forte caráter pejorativo". Ele diz que cabe à emissora reparar a cena na própria novela "para que não paire qualquer dúvida sobre a pessoa e a imagem do policial militar brasileiro". "Até o momento, não recebi nenhuma informação de que haverá algum reparo."
Manifestação. O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Wilson de Oliveira Morais, diz que recebeu telefonemas e e-mails pedindo que a entidade se manifestasse contra as declarações do delegado Rossi. "A maioria dos policiais militares é honesta, tanto que trabalha 18, 20 horas por dia justamente para não ter de pegar propina para poder sobreviver; 85% dos policiais militares fazem bico."
Entre os guardas-civis também houve reação negativa por causa do diálogo na novela. "Assisti à cena e fiquei chateado. As corporações refletem a sociedade, mas você não pode colocar isso (corrupção) como uma prática comum a todos", diz Carlos Augusto Souza Silva, presidente do Sindguardas (entidade que representa os guardas metropolitanos de São Paulo). "Em vez de contribuir para a solução dos problemas, acaba colocando como uma verdade."
Ficção. Questionada, a Globo afirmou que a declaração do delegado Rossi diz respeito à função de ordenamento urbano exercida pelos guardas e PMs, mencionada pela personagem Paula ("recolher mendigos"), que tem como características o preconceito e a arrogância. A autoridade logo explica que não faz parte da Polícia Militar ou da Guarda Municipal, corporações que têm competência para tal função. A emissora ressalta que a atitude de Paula é imediatamente repreendida pelo irmão, um estudante de Direito.
A Globo afirma também que a novela é uma obra ficcional, amparada pela liberdade de expressão e sem compromisso algum com a realidade, "que deveria ser a verdadeira preocupação das autoridades". O Estado procurou também os autores da novela, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, mas eles não se manifestaram até as 20 horas de ontem./ COLABOROU RENATO MACHADO
DIÁLOGO POLÊMICO
Paula
"Eu sou uma das donas dessa casa. Eu acho um absurdo chegar aqui e estar essa bagunça, essa falta de respeito. Vocês não têm mais nada para fazer, não, hein? Com tanto mendigo na rua para recolher, o que vocês fazem, hein? Só recebem propina de motorista bêbado?"
Delegado Rossi
"Acho que a senhora está confundindo um pouco as coisas. Eu não sou guarda municipal, tampouco sou policial militar, por isso mesmo vou te dar um refresco e vou fingir que não ouvi o que a senhorita acabou de dizer."
estadao